Maputo, 27 de dezembro de 2024
O rapper moçambicano Dice Sitoe lançou nesta quinta-feira (26/12) a música "Desculpa, Afonso Dhlakama", que já está disponível no YouTube e vem causando repercussão nas redes sociais. Na obra, Dice faz um pedido de perdão sincero ao falecido líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, reconhecendo-o como um herói nacional e lamentando as narrativas que moldaram sua geração contra o político.
Uma Geração Manipulada
Por décadas, o sistema educacional moçambicano e a narrativa estatal apresentaram Dhlakama como um “terrorista” responsável por inúmeras tragédias. Esta visão marcou especialmente aqueles que cresceram nos anos 1990, como o próprio Dice Sitoe. Porém, eventos recentes, como a repressão policial durante os protestos pós-eleitorais de outubro, despertaram reflexões sobre o legado de Dhlakama e a manipulação histórica.
Na música, Dice expressa uma mudança de perspectiva que representa muitos jovens moçambicanos:
"Eras nacionalista. Diga a Matsangaíssa que fomos todos esses anos aldrabados. [...] Eu te odiava. É que a informação sobre ti era toda ela manipulada."
Reflexão sobre o Presente e o Passado
A música também aborda as tensões políticas atuais, com o partido PODEMOS ultrapassando a RENAMO como segunda maior força política no país e a repressão crescente do governo. Eventos como o uso de força letal em protestos, resultando em mais de 100 mortes, ecoaram as lutas históricas de Dhlakama por democracia e direitos humanos.
Dice, em seu pedido de desculpas, faz um paralelo entre o passado e o presente:
"Mudamos de ritmo, agora estamos a dar novos passos. Não querem aceitar que já não aceitamos dançar a música deles."
Um Manifesto para a Nação
Mais do que um pedido de desculpas, "Desculpa, Afonso Dhlakama" é um manifesto que clama por uma reavaliação crítica da história e das instituições moçambicanas. A música tem gerado um forte debate online, dividindo opiniões, mas também unindo vozes que pedem um futuro com mais justiça e reconhecimento da verdade histórica.
A obra de Dice Sitoe reafirma o poder transformador da arte em tempos de crise e reflete um momento de profunda introspecção nacional.